terça-feira, 26 de outubro de 2010

Preciso de reflectir, de saber se é da minha imaginação ou um erro comum.
Farto-me de procurar e finjo mil vezes que não é nada comigo. Não aceitamos bem a solidão, como tal andamos a vida inteira a procura da outra metade (onde de facto não temos certeza que exista, mas no fundo precisamos de acreditar que sim).

Arriscamos vezes sem conta, deixamo-nos enganar pelos sinais
e acabamos por duvidar em alguns momentos.

Eu sou assim, não só por ser uma mulher sagitariana, e uma jovem de sonhos infinitos, como tambem porque quero o meu sempre e sem dúvida alguma que quero e preciso de ser amada.
Contrario-me milhares de vezes, sou uma mulher amada sim... mas amor daquele que todas as mulheres precisam de sentir, do cuidado que protege sem ter que necessáriamente prender as asas de alguém que se ama.
Já conheci esse amor, já lhe sei de cor o cheiro e a vitalidade. Como uma manhã quente de primavera dentro de um inverno chuvoso. É mais que qualquer um possa tentar explicar, por isso não aparece quando queremos, nem todas as vezes que queremos.



Não procuro, mas espero.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

nós os dois.

Vivo num mundo diferente.
Não conto os dias e nada tem um número.
Não tenho uma lista de planos,
Não tenho muitos albuns de fotografia.
Não há jantares semanais, ou anuais iguais aos outros.
Não tenho grupos, não tenho definições, não tenho condições.

A vida que vivi foi inventade através da ponta do lápis que na mesma hora que acontecia.

E preciso de acreditar que isto é a minha última chance, para conseguir saltar.

Não vou voltar a tentar, porque o meu instinto quase que já oprime a vontade, negligência os passos certos e mudos, e aí, será mais fácil a dúvida.

Eu quero ser a tentativa por espontanêadade, planeada ao pormenor.

E quero gritar ao mar que nos encontramos.

domingo, 10 de outubro de 2010

Such Pure Delight...


É imensamente dificil entregar um metro de espaço a alguém depois de termos caido na ilusão do amor.
É dificil não pensar, nem que seja por segundos, que a culpa foi nossa.


Mas nao me engano, e não posso deixar de sentir. Ainda que os tempos sejam de crise,
ainda acredito que há muito mais para viver e saborear.
"Keep making mistakes, keep trying again..."

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Eu vou tentar-te explicar melhor,
Lembraste quando saiste da minha vida daquela maneira fria, despida de qualquer saudade... de qualquer vicio? Foi nessa hora.

Cheguei a casa e tomei um banho quente. Vesti uma roupa confortável, e ali, no mesmo sitio do meu quarto, à mesma hora do dia, senti-me livre.

Doeu horrores. Mas senti um orgulho a subir-me ao nariz. Não foi porque achava que eras pequeno,
mas porque me lembrei que sou muito grande. Deste-me a certeza que mesmo que um dia quisesses mais, não me irias dar a entende-lo sequer, que até aquele preciso momento o expoente máximo do que poderiamos viver teria sido o que já tinhamos vivido antes. Não sei se me conheces ao ponto de saber que sou uma mulher ambiciosa.

Dias depois, senti necessidade de resolver uma situação que podia resolver e queria. Eu disse-te que não se tinha passado nada, mas na realidade, nada de novo. O magnetismo dele é surpreendente, e eu agora lembro-me porque é que me envolvi da primeira vez que nos conhecemos.

Depois de me deixares, levas-te o peso, e a credibilidade que eu tinha em me apaixonar. Se vacilei uma vez, posso vacilar novamente. E, com ele, já tinha vacilado uma vez.
Vacilei de novo. Não porque preciso de disfarçar alguma coisa, já não havia nada para disfarçar. Ele criou um espaço dele.

Ás vezes questiono-me, se sabemos de facto quando amamos alguém. A palavra parece-me tão relativa e obvia ao mesmo tempo. Mas não interessa o que é, vive-lo é óptimo e isso basta para nos arrancar um sorriso estúpidamente ridículo logo pela manhã. Credo, de repente parece que vaciliei..

E vacilo mais vezes ao dia. Porque apesar de haver momentos que petrifico de medo, há outros que me dá um gozo saborea-lo de olhos fechados.

Sei que ele vai-me dizer verdades que eu não quero ouvir. Sei que ele me vai fazer feliz, de uma maneira intensamente fácil. Ele sabe faze-lo... Tão bem.

Tenho saudades dele.


Liliana Freixinho

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Daniel Filipe

A invenção do amor

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana


Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo


Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade


É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas
Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade
Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

 
...


É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

...


Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência


Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

“Podias ter-me dito que ias sair da minha vida. A paixão é mesmo isto, nunca sabemos quando acaba ou se transforma em amor, e eu sabia que a tua paixão não iria resistir à erosão do tempo, ao frio dos dias, ao vazio da cama, ao silêncio da distância. Há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir, e nós tivemos muita sorte porque vivemos todos esses tempos no modo certo. Podias ter-me dito que querias conjugar o verbo desistir. Demorei muito tempo a aceitar que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer, sem travar batalhas. Antigamente pensava que não, que quem desiste perde sempre, que a subtracção é a arma mais cobarde dos amantes, e o silêncio a forma mais injusta de deixar fenecer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje sei que desistir é apenas um caminho possível, às vezes o único que os homens conhecem. Contigo aprendi que o amor é uma força misteriosa e divina. Sei que também aprendeste muito comigo, mais do que imaginas e do que agora consegues alcançar. Só o tempo te vai dar tudo o que de mim guardaste, esse tempo que é uma caixa que se abre ao contrário: de um lado estás tu, e do outro estou eu, a ver-te sem te poder tocar, a abraçar-te todas as noites antes de adormeceres e a cada manhã ao acordares. Não sei quando te voltarei a ver ou a ter notícias tuas, mas sabes uma coisa? Já não me importo, porque guardei-te no meu coração antes de partires. Numa noite perfeita entre tantas outras, liguei o meu coração ao teu com um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a minha, enquanto dormias.”




Margarida Rebelo Pinto